Manhouce é uma pequena aldeia serrana situada na serra da Gralheira e é uma das 19 freguesias de São Pedro do Sul.
A aldeia vestia-se de negro com as suas construções rústicas feitas de pedra e cobertas em lousa, tudo retirado da montanha. O seu interior era revestido com barro e as suas divisões em madeira.
Antigamente caminhamos de almocreves e recoveiros, era o local obrigatório de pernoita porque a povoação era atravessada pela estrada romana que ligava Porto a Viseu e Manhouce, geograficamente, ficava a meio caminho destas cidades. Os comerciantes que faziam transporte de mercadorias do litoral para o interior e vice-versa,
Estabeleciam com as gentes de Manhouce não só trocas comerciais, mas também um intercâmbio sócio - cultural muito rico que fez surgir algumas influências do douro e beira litoral nas danças e cantares, assim como nos trajes Manhouceiros.
Os trajes
Os trajes do povo de Manhouce marcam duas fases distintas: o trabalho e a festa. O traje de festa e romarias da mulher é garrido, luxuoso, composto por uma saia preta de armur com barras de veludo no fundo, presa abaixo da cintura com uma cinta de lã preta. A sobrepor a saia, um avental azul, verde ou castanho de armur ou lã, também com fitas de seda ou veludo ao fundo. A blusa é clara, muito elaborada com rendas e pregas no peito e enfeitada com fitas e rendas.
Na cabeça usa lenço de seda em tons de amarelo ouro e por cima o típico chapéu preto de veludo com missangas e pedras. O chapéu é uma das peças onde se verifica a forte influência da beira litoral. Todo este traje é realçado por muito ouro que ela leva no peito.
O homem vesti a calças e colete preto, camisa de linho, chapéu de aba larga e ao peito trazia uma corrente de ouro ou prata, dependendo da sua condição económica, onde segurava o relógio também de prata ou ouro.
No trabalho, as roupas eram mais escuras e muito simples quase sem ornamentos. Assim a mulher usava saia de pano riscado, blusa de xita e na cabeça um lenço de lã e um chapéu á bareira. Á cintura trazia uma corda e foucinha que usava nos trabalhos do campo. O homem vestia calças de cotim, camisa de pano riscado e na cabeça usava um chapéu coberto (quando o chapéu de festa ficava velho era coberto com um tecido preto e depois cosido. Eram estes os que usavam no trabalho). Á cintura presa com uma corda, trazia uma cabaça com vinho.
Dentro do trabalho destaca-se o traje dos pastores que todos os dias, de madrugada, iam para o monte com o gado. E como a serra era fria, a pastora vestia saia de burel (tecido feito a partir da lã de ovelha), blusa de pano grosso, lenço de lã e chapéu coberto. Calçava meias de lã de ovelha e tamancos. Para se abrigar do frio levava um bandil, também de burel.
O homem vestia fato todo em burel, calçava tamancos ou botas untadas com gordura animal para evitar a humidade. Às costas levava uma manta de lã de ovelha para se abrigar dos dias mais frios de Inverno.
O Rancho:
Em 1938, Manhouce foi escolhido para participar no Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal. Então, em Setembro desse mesmo ano, deslocou-se á aldeia um júri vindo de Lisboa.
Transportados em carros de vacas desde São João da Serra até Manhouce, porque não havia estrada, puderam apreciar as culturas e tradições de um povo. Foram demonstradas e recriadas as actividades mais importantes da aldeia e foi, precisamente, por este motivo que nasceu o ranho folclórico de Manhouce. No concurso, a aldeia mereceu um honroso 2º lugar, mas a semente germinou e deu frutos. Devido à emigração, o rancho sofreu interrupções. Foi num destes momentos, nos anos sessenta, que foi fundado o grupo de cantares de Manhouce. Cantando a três vozes as cantigas de Manhouce, o grupo deu a conhecer as vivencias de um povo. Passado 69, o rancho continua a divulgar as tradições das gentes de Manhouce.
A pastorícia e a agricultura:
A principal actividade económica das gentes de Manhouce era a pastorícia e mais tarde também a agricultura. Eram estas duas fontes de riqueza que com o passar do tempo se tornaram insuficientes, o que levou muitos jovens a emigrar:
Ø Brasil
Ø França
No entanto, Manhouce conheceu um período muito próspero. Na 2º grande guerra, o país vendia volfrâmio aos Alemães e Ingleses para o fabrico de munições, e a freguesia contribuía com a exploração das minas das Chãs.
Muita gente vinda de vários lugares trabalhou durante anos nestas minas. Os homens perfuravam o solo, escavavam e extraiam o minério.
As mulheres cuidavam da sua limpeza e transporte.
Na agricultura o produto mais cultivado era o centeio. As pessoas juntavam-se nos campos onde ceifavam este cereal. Depois de cortado faziam as faixas e transportavam-no para as eiras onde era malhado com manguais ( cabo de madeira ligado, através de um pedaço de coiro, a uma peça também de madeira) e pedras.
À pastorícia estava também associados outros trabalhos, como é o caso da esgadelhada, fiagem e por fim a tecelagem.
Estas actividades eram compostas por fases distintas:
ØTosquiavam-se as ovelhas
ØLavava-se a lã
ØE por fim era esgadelhada ( abrir a lã com as mãos de modo a facilitar a fiagem).
Com a roca e o fuso as mulheres fiavam e faziam os novelos. Depois disto a lã estava pronta para no tear dar corpo as mantas que se usavam na cama e as roupas de pastor. Também da pastorícia tiravam o alimento base que era o leite. O leite era usado pelo menos em duas refeições diárias: de manhã e à noite, do leite também se extraia a manteiga e o queijo, produtos que raramente usavam para consumo, pois era sobretudo para venda em feiras, mercados e mesmo aos almocreves que passavam na aldeia.
Para retirar a manteiga, as mulheres deitavam o leite num cântaro de barro onde deixavam em repouso ate engrossar. Depois com o touce (cabo de madeira com duas peças de cortiça, uma no cimo e outra no fundo), a mulher em gestos rápidos e repetitivos amassavam o leite. Após algum tempo começavam a vir ao de cima os bolos da mais gostosa e pura manteiga. Retiravam-se, colocavam-se numa tigela e misturava-se um pouco de sal. O leite desnatado, era para consumo da família servido em grandes tigelas com migas de broa.
As festas
As festas, bailaricos à luz da candeia faziam parte do dia-a-dia das gentes de Manhouce.
Nas casas com salas grandes onde se faziam os serões. O s músicos com concertinas, cavaquinhos e violas tocavam modas de roda e também os viras, cantados e dançados pelos jovens da aldeia.
A festa ao santíssimo era e continua a ser a principal e mais solene festa religiosa da freguesia. Mas outras festas se realizam nos vários lugares:
ØManhouce – Festa do santíssimo.
Ø Sernadinha - Festa do menino Jesus de Praga.
ØVilarinho – Festa de santa Maria.
ØCarregal – Festa da senhora da franqueira.
ØManhouce – Festa do emigrante.
Nestes dias mulheres e homens vestiam os seus melhores trajes e em conjunto no misto de fé e alegria revelavam a sua fé.
Alem das festas e romarias as danças de Manhouce eram exibidas no final das principais tarefas agrícolas que eram comunitárias:
ØCeifas
ØMalhas
ØTiradas
ØSementeiras
No final destes trabalhos que eram duros e laboriosos, todos, novos e velhos, dançavam e cantavam nas eiras, nos terreiros e mesmo nos campos.
As modas mais dançadas nestas ocasiões eram os viras:
ØVira d’aldeia
ØVira valseado
ØVira flor
ØVira de trempes
Algumas modas de roda:
ØÓ povo deste lugar
ØLeitinho
ØO balão
ØOra dizem mal dos caçadores
ØAdeus lugar de Manhouce
ØEu venho de lá de riba
ØUm dia jurei-te amor
ØLaurindinha
ØRabela
ØMilho alto
A igreja:
A igreja paroquial foi construída nos meados do século XVII.
Reza a historia que este monumento serviu de hospital de sangue das invasões francesas.
Serviu também de cemitério no início do século XX, altura em que dezenas de pessoas da freguesia foram vitimadas pela febre tifóide.
A capela do senhor dos enfermos situa-se num dos pontos mais altos de Manhouce e foi mandada construir pelos imigrantes da freguesia, no ano 1892.
Na altura o destino da imigração era o Brasil, terras longínquas e desconhecidas. Foi então que os que partiram edificaram este pequeno santuário ao senhor dos enfermos, único da diocese de Viseu.
Há mais de cem anos que o povo de Manhouce lhe presta homenagem numa festa que, actualmente, se realiza no ultimo domingo de Julho. No Carregal celebra-se a senhora da franqueira. A sua festa é variável, realiza-se entre o mês de Junho e depende da Páscoa. Em vilarinho existe a capela com devoção a santa Maria e a sua festa realiza-se no primeiro fim de semana de Agosto. Na Bustarenga, contraída recentemente, esta situada também uma capela onde se venera a senhora da paz. A sua festa realiza-se sempre no dia 19 de Agosto. Também no lugar da Sernadinha foi erguida, recentemente uma capela. Neste local venera-se o menino Jesus de Praga. A festa em sua honra realiza-se no segundo fim de semana de Agosto.